Embora os astrônomos concordem que o Sol vive ciclos magnéticos que duram 11 anos, há uma hipótese menos reconhecida de que existe outro cic...
Embora os astrônomos concordem que o Sol vive ciclos magnéticos que duram 11 anos, há uma hipótese menos reconhecida de que existe outro ciclo de 22 anos. Essa ideia pouco ortodoxa pode ganhar força após um estudo que contraria a previsão oficial sobre o Ciclo 25, que começou no início deste ano.
Em setembro, o Centro de Previsão do Clima Espacial, que se encarrega de monitorar a atividade solar, se juntou à NASA em um painel de especialistas para apresentar uma previsão de como será o Ciclo 25, e a conclusão foi unânime: será semelhante ao ciclo anterior, ou seja, terá pouca atividade magnética. O painel prevê um número máximo de 115 manchas solares.
Porém um novo estudo, conduzido pelo National Center for Atmospheric Research (NCAR) e publicado no Solar Physics, diz o contrário. De acordo com o artigo, o Ciclo 25 atingirá o pico com uma quantidade máxima de 210 a 260 manchas solares. Quanto mais manchas no Sol, maiores são as chances de enfrentarmos uma tempestade solar perigosa para instrumentos em órbita, como satélites de comunicação e GPS, e até mesmo para os astronautas a bordo da Estação Espacial Internacional.
Se essa previsão do NCAR for confirmada, a hipótese de que o Sol tem ciclos magnéticos de 22 anos poderia ganhar força entre os cientistas. Não seria uma notícia ruim — pelo contrário, significaria que os pesquisadores finalmente teriam uma melhor compreensão sobre os mecanismos solares e, talvez, poderiam, a partir daí, descobrir como fazer previsões mais precisas sobre o aparecimento das manchas solares.
O físico Scott McIntosh, líder do novo estudo, já publicou trabalhos sobre a ideia dos ciclos de 22 anos. Para ele, se o Sol de fato apresentar entre 210 a 260 manchas solares durante o Ciclo 25, será um indício de que sua equipe está no caminho certo para compreender a “máquina magnética interna do Sol”. Mas pode levar cerca de cinco anos para averiguarmos essas previsões, já que o pico do atual ciclo solar deve acontecer por volta de 2025.
No trabalho anterior de McIntosh, há um método diferente para marcar o início e o fim de cada ciclo. Enquanto o modo tradicional de traçar esses períodos é analisando a quantidade média de manchas solares, a equipe de Scott usou observações de pontos brilhantes coronais, luzes ultravioleta extremas na atmosfera solar. Esses pontos brilhantes podem ser vistos percorrendo o Sol, começando por latitudes altas até chegar à linha do equador. Quando os pontos chegam em latitudes médias (que ficam entre as regiões polares e o equador), surgem atividade das manchas solares.
McIntosh e sua equipe cogitam que esses pontos brilhantes marcam o percurso das faixas do campo magnético que envolvem o Sol. Quando as faixas dos hemisférios norte e sul se encontram no equador, elas se anulam — evento que os pesquisadores usam como marcadores para medir a duração de cada ciclo. Cada marcador aponta para 11 anos, mas ao analisar os padrões dos anos anteriores, o grupo de McIntosh concluiu que um ciclo fraco não pode ser sucedido por outro igualmente fraco.
Por exemplo, o ciclo de número 23 começou em 1998 e terminou apenas em 2011, 13 anos depois. Já o 24, foi bastante fraco, mas também foi muito curto, durando apenas 10 anos. Esse tipo de contradição foi encontrada ao longo de várias décadas anteriores a estas, e serviu de base para a previsão de que o próximo ciclo será de forte atividade magnética. “Um ciclo 25 fraco em manchas solares 25, como a comunidade está prevendo, seria um desvio completo de tudo o que os dados nos mostraram até agora”, disse McIntosh, referindo-se à previsão do painel liderado pela NASA e pelo Centro de Previsão do Clima Espacial.
Ainda é cedo para saber qual das previsões está correta, mas parece que poderemos acompanhar a evolução das manchas solares até 2025 quase em tempo real. É que novos observatórios como a Solar Orbiter, da NASA e da ESA, estão com seus instrumentos afinadíssimos para detectar e analisar a atividade no Sol, fornecendo aos cientistas um panorama detalhado sobre o que está acontecendo por lá. Por enquanto, a única maneira de prever o clima espacial é compreendendo os padrões, então este será o foco de todas as equipes de estudo solar nos próximos anos.
Mesmo com a incerteza, vale a pena que os estudiosos investiguem o novo estudo a fundo, já que ele prevê não apenas um ciclo mais intenso a partir de agora, como também um dos mais fortes já vistos. Se for verdade, haverá implicações muito sérias e as autoridades terão que tomar providências rápidas para proteger nossos sistemas de comunicação em órbita, e até mesmo em terra. Não se trata de apenas uma discordância técnica entre cientistas — são bilhões de dólares e até mesmo vidas que estão em jogo.
Fonte CanalTech