Alex Turner sabe que não precisaria de muito esforço para ganhar o público do Primavera Sound , em São Paulo. Bastava fazer o que de fato ...
Alex Turner sabe que não precisaria de muito esforço para ganhar o público do Primavera Sound, em São Paulo. Bastava fazer o que de fato fez: subir ao palco com seu charme característico e seus óculos escuros, e os fãs presentes no Distrito Anhembi estariam aos seus pés. No entanto, o frontman do Arctic Monkeys não se acomodou no próprio carisma na noite deste sábado (5). Diferentemente do que dá a entender seu álbum mais recente, The Car, Turner e os Monkeys estavam ali, de corpo e alma presentes, entregues aos fãs e evidentemente contentes — para os padrões da banda — de terem retomado as performances ao vivo.
Quem diria que esse mesmo vocalista, que nos últimos shows no Brasil estava comprometido demais com sua persona rockstar para dar atenção aos fãs, voltaria agora a São Paulo, mandando beijos pontuais e até demonstrando gratidão genuína pelos gritos e carinho. Mas, diante de um setlist que mesclou o melhor da sua discografia com músicas do novo trabalho, a reação do público realmente não poderia ser outra. O Arctic Monkeys entregou um show de greatests hits, capaz de agradar os entusiastas de todas as fases da banda, inclusive da mais recente. No entanto, no ao vivo, é evidente que a melancolia de The Car, bela e introspectiva como é, não foi páreo para a energia fervilhante de “I Bet You Look Good on the Dancefloor”, o saudosismo de qualquer hit do AM ou, acredite se quiser, nem para as faixas do divisivo Tranquility Base Hotel & Casino. E isso era aparente na postura da própria banda — sobretudo no entusiasmo do baterista Matthew Helders, que mais de uma vez roubou os holofotes —, assim como no engajamento tímido dos fãs às letras de músicas como "Sculptures of Anything Goes” e “Body Paint”.
Apesar de ter momentos menos empolgantes, essa alternância sequer chegou a ser um problema. No fundo, o Arctic Monkeys demonstrou um equilíbrio interessante ao reconhecer quem foi e quem quer ser de agora em diante e, nessa dinâmica, Turner e companhia reencontraram a intensidade dos seus primeiros anos de banda. A grande questão, como ocorreu também no show do Interpol, foi a infraestrutura.
Infelizmente, no meio do caminho tinha uma árvore. Ou, melhor, muitas. A visão do palco Becks, o principal no Primavera Sound, estava bastante encoberta, e quem não teve a sorte de conseguir um bom lugar foi obrigado a se contentar com as telas espalhadas pela extensão do espaço ou, realmente, se arriscar subindo nas plantas. Nesse sentido, a experiência coletiva falou mais alto (às vezes, literalmente), e talvez por isso “R U Mine?” tenha sido mesmo assim tão catártica ao final do show. Contudo, não dá para defender uma estrutura como essa, principalmente se considerarmos que teve quem pagou bem caro para ver esse show — e mal enxergou o palco.
O Primavera Sound continua no domingo (6) com shows da Lorde, Phoebe Bridgers, Travis Scott e Charlie XCX.
Fonte Omelete