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Final Fantasy IX foi o melhor game que joguei em 2020

Batendo em gigantes como The Last of Us 2 e Cyberpunk 2077. Mesmo em um ano com lançamentos de peso como The Last of Us 2, Ori and the Will ...

Batendo em gigantes como The Last of Us 2 e Cyberpunk 2077.

Mesmo em um ano com lançamentos de peso como The Last of Us 2, Ori and the Will of the Wisps, Final Fantasy VII Remake, Cyberpunk 2077 e todas as novidades tecnológicas que chegam com o PS5 e Xbox Series X/S, Final Fantasy IX foi o melhor game que eu joguei em 2020.

Desde o meu primeiro dia no IGN Brasil, em que conheci meu colega e querido amigo Diego Lima, ele insistiu que eu jogasse Final Fantasy IX, o jogo predileto dele. Comprei o game no final de 2017, mas ele ficou no backlog da minha biblioteca Steam por quase três anos.

Confesso, não havia me apegado muito à franquia, simplesmente porque o primeiro e único que eu havia jogado até então tinha sido Final Fantasy XV, que é bom, mas não vai muito além disso. Acredito que isso me manteve afastado de IX por tanto tempo.

Então, por volta de março ou abril deste ano, decidi começar Final Fantasy IX em uma série de lives no meu humilde canal da Twitch. A experiência não poderia ter sido melhor.

Abrir o jogo já é uma avalanche de emoções. Então, iniciar e ter o prazer de ouvir Memory Erased by a Storm é como um abrir um presente no dia de Natal. A trilha sonora cuidadosamente composta pelo gênio Nobuo Uematsu não só gera impacto pela grandiosidade da obra logo no início, mas acompanha o tom da narrativa ao longo de todo o game. IX certamente não seria o que é sem a trilha. Fale o que quiser de Necron, mas imagine aquela luta sem The Final Battle!

Foi com o clássico da Squaresoft que superei o preconceito infundado que tinha com RPGs de combate por turno. A única maneira que eu aceitava isso era com Pokémon, por ser um fã alucinado.

Apesar de ainda ter críticas a certos aspectos disso em Final Fantasy IX, como algumas missões cronometradas que não desconsideram os tempos das cutscenes dos golpes (e olha que há alguns ataques com cenas que duram mais de um minuto!) e o grind excessivo para sobreviver à reta final, há de se dizer que o combate do game envelheceu razoavelmente bem.

Em momento algum me senti desesperado para fugir de uma batalha por falta de paciência. Em Final Fantasy IX, a velha e clássica frase "A felicidade está na jornada e não no destino" é extremamente adequada. Isso também é verdade para a própria aventura dos personagens; impedir que o mundo seja destruído é ótimo, mas criar laços com pessoas que provam ser amigas é magnificamente superior.

Acredito que o ponto fundamental de reflexão em Final Fantasy IX é a própria existência -- no caso, a dor e a pressão que ela carrega. Vivi é atormentado ao longo de todo o game pelo questionamento sobre o que e quem ele é. Diante de uma realidade cruel que nos é apresentadas, o que somos, afinal, além de matéria cósmica pronta para ser reciclada? A resposta: o que quisermos.

Existencialismo não é assunto novo para a minha mente ateísta. Aprendi, ao longo dos anos, a transformar a falta de prospecto e desesperança com a própria vida em combustível para fomentar minhas ambições e objetivos -- sim, mesmo que, diante da morte, tudo o que for realizado signifique nada. Tudo bem.

Fiquei feliz, no entanto, de ver que um jogo conseguiu retratar tão bem a interpretação positiva após a crise. Sem certeza de futuro e fadados a terem os nomes esquecidos pela história do mundo, Zidane, Vivi, Garnet, Steiner e tantos outros personagens tomam as rédeas do próprio destino e decidem ser pessoas melhores, fazendo bom proveito do pouco tempo que têm.

É possível compreender até mesmo as ações de Kuja. Embora ele tenha decidido seguir por um rumo obscuro e absolutamente pervertido, ele também decidiu o próprio destino, quebrando o que fora planejado para ele. A tragédia está em como ele interpretou a insignificância existencial dele e como o personagem decidiu agir diante disso; ele é cegado pelo ódio e vive sem qualquer remorso ou consideração pela vida alheia.

Em um ano catastrófico como 2020, vivenciar uma obra que não apenas nos faça refletir sobre a mortalidade, mas também incentiva o pensamento positivo diante da dura realidade é um tapinha no ombro e um lembrete de um amanhã que pode estar repleto de melodias de vida.

Não o bastante, Final Fantasy IX também é um teste introspectivo de empatia. Kuja é o antagonista brilhante e envolvente que é justamente porque as ações dele não têm uma origem maligna. Kuja não nasceu mal. Kuja é o resultado de circunstâncias injustas e opressoras; a retaliação dele é um grito de desespero.

Entendi por que o Diego insistiu tanto para que eu jogasse o game. Final Fantasy IX era uma obra à frente do próprio tempo, pela inovação tecnológica oferecida lá em 2000, e continua sendo, devido à profundidade narrativa que ecoa e gera debate mais de 20 anos depois.

Fonte IGN Brasil